sexta-feira, 19 de março de 2021

# BiB Macaé Comemora: aniversariante do dia 🎂🎈🎉

 Assis Valente, O Pivô do Samba

Traçar a trajetória de José de Assis Valente não é tarefa fácil. Sua biografia é cercada por incertezas e imprecisões, sobretudo quando se trata do ano e local do seu nascimento. Em entrevista concedida em 1945 , Assis afirmou que nasceu em 1908, no Campo da Pólvora, em Salvador. Entretanto, em outros momentos ele dizia ter nascido ora em Santo Amaro da Purificação, no distrito de Patioba, ora em Vila-Lobos da Rainha. Sobre o ano do seu nascimento encontram-se as datas de 1909 e 1911. A certeza que temos é a de que o menino Assis tornou-se valente desde muito cedo. Separado dos seus pais, foi entregue aos cuidados de uma família que o tratava como empregado, mas que em contrapartida o obrigava a seguir com os estudos. A família mudou-se para Salvador e, a partir deste momento, sua trajetória seguiu diferentes rumos (inclusive pelo Sertão baiano): estudou desenho e escultura no Liceu de Artes e Ofício, foi limpador de frascos no Hospital Santa Izabel, trabalhou na farmácia do Hospital Municipal em Senhor do Bonfim, engajou-se no Circo Brasileiro e, em 1922, ingressou em um curso de prótese dentária.

Em 1927, a “angulosidade mulata” de Assis chega ao Rio de Janeiro, reduto do samba e das “classes perigosas” que habitavam as favelas dos morros da capital federal. Conciliando o gabinete de protético, que inclusive foi o primeiro do gênero em toda a América Latina, com a carreira de compositor, em 1932 seu primeiro sucesso, “Tem Francesa no Morro”, despontou na voz de Aracy Cortes. Logo em seguida, Carmen Miranda gravou “Etc” e Good Bye, Boy”. Com a Pequena Notável a relação foi a do eterno jogo do amor e da mágoa. Ao que parece, Assis nutriu pela cantora um amor platônico que foi fortemente abalado quando esta recusou “Brasil Pandeiro”, composição de 1940, e que na década de 1970 foi revisitada pelos Novos Baianos. Suas composições ecoaram nas vozes de grandes nomes da música das décadas de 1930 e 1940, como Moreira da Silva, Carlos Galhardo, Francisco Alves, Aurora Miranda, Aracy de Almeida e outros. Assis também é o responsável por inaugurar o gênero natalino no Brasil com a marchinha “Boas Festas”, de 1932 . Sucesso à época e imortalizada na posteridade, a composição com seus versos bonitos e expressivos conta a história de uma criança pobre que pede ao Papai Noel a felicidade de presente de Natal.

Assis dividiu-se entre a arte a serviço da ciência da prótese dentária (como anuncia o Jornal do Brasil em 1950) e a arte a serviço da música e da ilustração. Sua sina, portanto, foi a de fabricar sorrisos para os outros, já que para si os sorrisos às vezes não o alcançavam. A sensibilidade do poeta em traduzir o belo não bastava, a vida para Assis não bastou. Para fugir da realidade que o atormentava, o “moreno fez bobagem”: tentou o suicídio por três vezes. A separação da vida se deu no final da tarde do dia 11 de março de 1958, em um banco da Praia do Russel, na cidade do Rio de Janeiro. Em seu bolso foi encontrado um bilhete que dizia: “Peço-lhes encarecidamente não retalhar o meu corpo. Morro por minha vontade. Estou sentindo apenas a cruel saudade de tudo e de todos [...]”.
E para onde irá o Brasil? Certamente o Brasil, definido por Assis como “um povo triste, que deseja sorrir, e cantar!”, não é mais o mesmo. No auge da era do rádio e dos “long-play”, suas músicas ecoaram pelos cantos mais longínquos do país, traduzindo “admiravelmente, invejavelmente, impecavelmente nos seus sambas, a psicologia nacional”. Se a arte existe porque a vida não basta, Assis Valente soube muito bem cumprir seu papel de fabricar sorrisos sem deixar de denunciar as mazelas do povo: nem todo mundo é filho de Papai Noel. E agora, José? Já que o mundo não se acabou, resta-nos viver mais um natal. Boas Festas!

                                                              Os três baianos na vida de Carmen Miranda 
                                                         Assis Valente, Josué de Barros e Dorival Caymmi
                                                                           ( Revista da Semana - 1950



                                                                        Assis Valente e Carmen Miranda
                                                                                  Rádio Mayrink - 1939

Entrevista intitulada “Assis Valente vai à Bahia”, concedida em 27/03/1945 a “A Scena Muda”, revista especializada em cinema que circulou entre 1921-1955. 

A Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional disponibiliza A Scena Muda : Eu sei tudo (Magazine Mensal) (RJ) - 1921 a 1955, através do link: http://bndigital.bn.br/acervo-digital/scena-muda/084859.

Em 1956, Assis Valente recebeu do Departamento de Turismo da Prefeitura do Rio de Janeiro um belo presente de festas: o reconhecimento oficial de sua já consagrada marcha “Boas Festas”. A música é transformada no hino de Natal brasileiro. Para essa e outras informações, confira: Sueli Borges. Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor: samba e brasilidade em Assis Valente. Salvador: Pinaúna, 2012, p.122. 


Fonte: http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=158

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