segunda-feira, 9 de novembro de 2020

# BiB Macaé Recomenda 📝Conheça um pouco mais sobre Hedy Lamarr, a 'mãe do wi-fi'

Hedy Lamarr, a 'mãe do wi-fi' que fugiu do nazismo paravirar inventora e estrela em Hollywood

Das dezenas de filmes protagonizados por Hedy Lamarr, estrela do cinema hollywoodiano nos anos 1940, nenhum teve enredo tão cativante quanto a vida da própria atriz. Nascida em Viena em 1914, era judia, casou-se com o homem mais rico daÁustria (um fabricante de armas que fazia negócios com as ascendentes elites fascistas e nazistas), fugiu do casamento paraos Estados Unidos, tornou-se uma das atrizes mais bem pagas de sua época e inventou um sistema de comunicações detorpedos que hoje é a base para tecnologias como Wi-Fi e Bluetooth.

Hedy, ou melhor, Hedwig Eva Maria Kiesler, precisou apagar seu passado ao fugir para os Estados Unidos.Atriz de relativo sucesso na Áustria, conhecida principalmente por protagonizar o polêmico filme Êxtase, Hedy abdicou da carreira ao se casar com Friedrich Mandl, dono da Hirtenberger Patronen-Fabrik, uma fábrica de armas e munições militares, e um dos homens mais influentes do país.

O casamento foi pensado principalmente como uma estratégia de proteção para a família Kiesler. Na época, Adolf Hitler na vizinha Alemanha já começava a dar sinais de antissemitismo e de seus planos deexpansão territorialista, ao que Mandl era um feroz opositor. Mesmo sem seguir tradições do judaísmo, exceto por alguns hábitos culturais, a família habitava no bairro judeu da cidade.

Mas, aos olhos do nazismo, a família Kiesler era definitivamente judaica, como ficou claro em 1935, com as Leis de Nuremberg. Elas definiram os critérios de cidadania na Alemanha Nazista e foram um grande passo na consolidação do ódio contra os judeus, estabelecendo que pessoas que tivessem três quartos de sangue judeu ou que praticassem a religião seriam consideradas judias.

Nos primeiros anos do casamento, Mandl de fato se manteve empenhado a proteger a Áustria da expansão do nazismo. Muito se deveu ao fato de que um de seus principais clientes e aliados era Benito Mussolini, político italiano que liderou o Partido Nacional Fascista e é considerado um dos principais criadores do fascismo. Em 1922, Mussolini se tornou primeiro-ministro daItália e, a partir de 1925, estabeleceu uma ditadura totalitária no país.

Como esposa de Mandl, a principal função de Hedy era organizar e entreter os convidados nos jantares de negócios do marido— manter as boas relações era a alma das transações. Em alguns desses eventos, chegou a conheceu pessoalmente o "Duce",como Mussolini gostava de ser chamado.

Mas a perspicácia de Hedy a fez perceber rapidamente os rumos que a situação estava tomando: não demorou para que Mandl começasse a negociar também com os alemães e, em 1940, embora inicialmente se opusesse a Hitler, Mussolini oficialmente se aliou à Alemanha, transformando a Itália em uma das principais potências do Eixo.

Fuga para Hollywood

Àquela altura, porém, Hedy já estava do outro lado do oceano, em Los Angeles. Em agosto de 1937, após algumas tentativas frustradas, Hedy havia conseguido fugir do casamento.

Com Hitler em ascensão e as Leis de Nuremberg já em vigor, o único lugar seguro para uma judia imigrante trabalhar como atriz era do outro lado do Atlântico. Não à toa, a própria criação de Hollywood é atribuída a esses imigrantes, conforme descreveu Neal Gabler em 1989 no livro An Empire of Their Own: How the Jews Invented Hollywood (Um império próprio: como os judeus inventaram Hollywood, em tradução livre, sem edição em português), uma das obras mais completas sobre o assunto.

E Hedy sabia disso: através dos contatos de sua época de atuação, acompanhava boatos sobre o êxodo silencioso dos profissionais para os Estados Unidos.

Por meio de um desses contatos, foi apresentada a ninguém menos que Louis B. Mayer, chefe do estúdio MGM. 

Chegou a Hollywood com um contrato de sete anos a US$ 550 semanais, com os ajustes usuais (o máximo jamais oferecido a uma novata) e um novo nome: Hedy Lamarr, mais amigável aos falantes da língua inglesa.

A carreira em Hollywood despontou. Em uma rara entrevista na TV de 1969, ela fala um pouco mais sobre sua rotina de trabalho da época: houve momentos em que chegou a filmar três filmes simultaneamente, correndo de um set para o outro.

A situação em sua terra natal, porém, era cada vez mais crítica e, tendo visto de perto o potencial bélico de destruição de uma das partes envolvidas, Hedy se preocupava — especialmente porque sua mãe permanecera na Áustria, agora sem a proteção de Mandl. Até porque nem ele se sentia mais seguro: com ascendência judaica (embora tivesse se convertido ao cristianismo),achou melhor fugir para o Brasil.

A invenção do wi-fi e do GPS

Enquanto enfrentava burocracias legais para levar a mãe aos Estados Unidos, Hedy decidiu tomar para si a missão de tornar aofensiva dos Aliados contra o nazismo mais eficaz. Por causa de sua experiência como esposa de Mandl, sabia que, de todos os armamentos produzidos, os torpedos eram o que tinham maiores problemas. Além de imprecisos, eram também suscetíveis à interferência do sinal por navios inimigos.

Ao conhecer o compositor George Antheil em uma festa, Hedy teria tido um momento "Eureka" (embora existam outras versões para o episódio, esta é uma das mais aceitas): o dueto espontâneo que fizeram no piano, em que ele transmitia um sinal e ela seguia, fez Hedy pensar que Antheil era o "transmissor de um sinal", como um submarinista ou um marinheiro, e ela, a receptora, ou um torpedo.

Se o marinheiro e o torpedo constantemente pulassem de uma frequência de rádio para outra, assim como os dois fizeram ao piano, a comunicação se tornaria praticamente impossível de obstruir.

Durante meses, trabalharam na invenção. Até que em outubro de 1940, início da Segunda Guerra Mundial, finalmente chegaram ao sistema de alternância de sinal de rádio para ser usado em torpedos e despistar radares nazistas. Submeteram a invenção ao Conselho Nacional de Inventores que, um ano depois, comunicou a decisão, assinada pelo próprio presidente do conselho, Charles Kettering. Ele recomendava que a Marinha dos Estados Unidos considerasse usar o sistema em seus torpedos.

Pouco tempo depois da decisão, em 7 de dezembro de 1941, a base de Pearl Harbor, no Havaí, foi bombardeada, colocando os Estados Unidos oficialmente na guerra. Os torpedos americanos logo se mostraram um fracasso, justamente por causa da imprecisão, animando os inventores, que ainda esperavam uma resposta da Marinha. Quando ela finalmente chegou, pegou-os de surpresa: em vez de apostar no sistema desenvolvido, os militares optaram por tentar fazer os torpedos antigos funcionarem.

Os dois chegaram a ir pessoalmente a Washington tentar convencer os oficiais, em vão — o preconceito contra uma invenção de uma mulher, ainda por cima famosa, falou mais alto.

A Marinha só passou a utilizar o sistema em 1962, na Crise dos Mísseis. Eventualmente, perdeu a exclusividade militar e se tornou a base de várias tecnologias atuais, como o GPS e o wi-fi.












Hedy, por sua vez, só foi reconhecida oficialmente em 1997, quando recebeu uma menção honrosa do governo americano porter aberto novos caminhos da eletrônica.

A partir de 2014, quando entrou para o hall da fama dos inventores dos EUA, e principalmente nos últimos três anos, Hedy passou a ser mais conhecida pelo público em geral. 

Por Marília Marasciulo.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54017008.

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